Portefólio # 1- Hinduísmo



Nesta nova modalidade, onde começaremos a visualizar parte do meu portefólio enquanto fotografo, e cronista de viajem, continuamos de viagem por terras desta antiga civilização.

Não irei falar do berço de nascimento desta por momento. No próximo capítulo iremos nos debruçar sobre a sua origem genética, por agora faremos a viajem ao contrário.

Por isso ampliamos geograficamente a ideia da génese do solo para descrever uma cultura construída em torno de arquétipos religiosos que ainda hoje perduram fixos no tempo.

Talvez porque o Hinduísmo, em comparação com as restantes religiões orientais, é a de mais difícil compreensão pela mente ocidental aqui exponho a minha análise sobre a sua complexidade.


O hinduísmo, por compreender uma grande variedade de elementos díspares, a sua expressão teológica ultrapassa os limites da religião teórica quando se integra na sua estrutura social.

Através dos atos mais comuns da vida cotidiana até ao mais sublime verso da sua literatura, esta é considerada como sendo uma das mais antigas religiões no mundo precisamente pelo o que ficou escrito e registado no tempo. O sânscrito ou língua sânscrita é uma língua ancestral do Nepal e da Índia. Embora seja uma expressão linguística pouco empregada, o sânscrito faz parte do conjunto das 23 línguas oficiais da Índia, e apenas é empregada no uso litúrgico do hinduísmo, do budismo e do jainismo.

Baseado nos "princípios eternos" (Vaidika Dharma) da doutrina dos Vedas (sabedoria divina), ao qual também chamamos de Saratana Dharma (religião eterna), desta doutrina provêm as bases para outras correntes filosóficas e religiosas que vão desde o Hinduísmo Védico, o Bramânico e filosófico, até aos movimentos sectários e reformadores, entre os quais se incluem o Budismo e o Jainismo, surgidos no século VI a.C.

Na sua forma atual, o hinduísmo pode ser visto como a terceira fase do Bramanismo, que foi inicialmente difundido na Índia, e progressivamente espalhado pelo resto do seu território vizinho em países como o Paquistão, o Sri Lanka e Myanmar, no Cambodja e em Bali encontramos também uma forte presença enraizada na sua cultura, que abrange uma infinidade de seitas, monoteístas ou politeístas.


Hinduísmo védico

Por volta do ano 2000 a.C., os Árias estabeleceram-se no Irão e na India. A sua herança religiosa foi criada com base na adoração das divindades dos seus antepassados. Além de deuses tribais, os indo-europeus veneravam deuses cósmicos: Dyeus ou Dyaus-Pitar (em sânscrito, "deus do céu", correspondente ao grego Zeus-Pater e ao Dies Piter ou Júpiter romano), todos os consortes da "mãe-terra". O conceito de figura Masculina de deus supremo, doador da chuva e da fertilidade e pai (mas não criador) dos outros deuses e dos homens começa assim a sua jornada na mente coletiva de seus adoradores.

 O Sol (svarya), a Lua (mas) e a aurora (em grego, heos) são os deuses da luz. As divindades menores e locais são as árvores, as pedras, os rios e o fogo.


Com a finalidade de obter a bênção dos deuses, o homem devia satisfazer, no pensamento                       e na ação, as exigências dos deuses.

 Este ritual foi transformado em princípio moral, sobretudo mais tarde, no zoroastrismo e no budismo. A base da "religião védica", no entanto, já existia entre os árias, antes de estes invadirem a Índia. Constituída pelos fundamentos ou princípios otimistas e de amor pela vida. Os cantos sagrados revelavam uma organização social estável, de abundância de alimentos, famílias grandes e sucesso nas guerras. Os cultos, antes uma atividade familiar, tornaram-se com o tempo cada vez mais complexos, com elaborado ritual, confiado a sacerdotes. Desenvolveram assim a ideia de um poder criador: Prajapati (em sânscrito, "Senhor das criaturas"), descrito nos Vedas, depois transformado em Brahma.


Hinduísmo bramânico

A segunda fase do hinduísmo veio com o declínio da antiga religião védica. Brahma (em sânscrito, "absoluto"), um dos deuses da tríade hindu (trimurti), integrada também por Vishnu e Shiva, tornou-se o deus principal.

Brahma é a manifestação antropomórfica do brahman, a "alma universal", o ser absoluto e incriado, visto dentro de um conceito de totalidade suprema que envolve todas as coisas visíveis e invisíveis deste universo. O cerimonia-lismo enriqueceu-se notavelmente sobre a direcção dos brâmanes (sacerdotes). Os cultos adquiriram poder mágico. As ideias de samsara (transmigração das almas a reencarnações sucessivas) e karma (lei segundo a qual todo ato, bom ou mau, produz consequências na vida atual ou nas encarnações posteriores) surgiram nessa época, assim como as especulações filosóficas sobre a origem e o destino do homem. O sistema de castas converteu-se na principal instituição da sociedade indiana, sendo a casta dos brâmanes a mais elevada.

 

A visão bramânica do mundo e a sua aplicação à vida estão descritas no livro do Manusmristi (Código de Manu), elaborado entre os anos 200 a.C. e 200 da era cristã, embora também contenha material muito mais antigo. Manu é o pai original da espécie humana. O livro trata inicialmente da criação do mundo e da ordem dos brâmanes; depois, do governo e dos seus deveres, das leis, das castas, dos atos de expiação e, finalmente, da reencarnação e da redenção. Segundo as leis de Manu, os brâmanes são senhores de tudo que existe no mundo.

 

Começamos assim a desenhar um modelo antigo de patriarcado com base em Arquétipos de castas. Lembram-se das ideias anteriores que formulamos sobre a ideia de arquétipo, semiótica, simbolismo e significado. As diversas dimensões sócio simbólicas destas ideias, deverão ser aplicadas ao analisarmos o conceito político religioso na base da organização geral desta sociedade.

 

 

A Reforma das seitas 

As várias tendências surgidas depois do longo período de elaboração filosófica do hinduísmo bramânico produzidas, no século VI a.C., o Jainismo e o budismo surgiram como formas de religiões distintas, embora alguns especialistas as considerassem como grandes seitas heréticas do hinduísmo. Vardhaman Mahavira(século V a.C.), o Jain Dharma, e Siddharta Gautama o Buda, os seus fundadores, rejeitavam os dogmas védicos-bramânicos e anunciavam a autossuficiência do homem para uma vida plena. O homem não precisa de um deus para a autorrealização do seu destino.

A preocupação social do budismo, que condenava o sistema de castas e o monopólio religioso dos brâmanes, transferiu-se mais tarde para o hinduísmo com a necessidade de renascimento do mesmo face à invasão islâmica produzida entre 1175 e 1340, que acabou por impor-se a quase toda a Índia, limitando a expansão do budismo ao seu país de origem.



Doutrina

As diferenças entre as visões doutrinais produziram uma enorme diversidade de cultos dentro de aquilo que podemos entender como sistemas no hinduísmo. O paraíso hindu abriga cerca de 330 milhões de deuses, expressões de um brahman único que encerra em si mesmo todo o universo.



 Acima de todas essas expressões, está a superioridade de Deus, identificado com o antigo mito do primeiro homem, Parusa. O desmembramento do seu corpo, que produziu o nascimento do universo, é a base da doutrina hinduísta de um Deus simultaneamente criador e destruidor da realidade.

O deus universal está acima do panteão de deuses locais, que nem mesmo têm o título de Senhor (isvara). Posteriormente, Brahma foi superado por Shiva e Vishnu, em torno dos quais os demais deuses foram agrupados. A coexistência de tantas formas e manifestações religiosas criou os mais extraordinários símbolos: deuses com mil olhos, como Indra, e Kali, que se popularizou principalmente por um dos seus filhos, Ganesha, com vários braços e cabeça de elefante.

 

O destino do homem, entretanto, não depende de nenhum desses deuses, mas do seu próprio esforço. O homem pode condenar-se ou salvar-se dos sofrimentos, causados pelo Samsara, a roda da vida que gira sem cessar, produzindo nascimentos e renascimentos sucessivos. A alma de todas as criaturas (e não somente dos homens) está sujeita a um novo nascimento (punajarman), e a reencarnações sucessivas, sacralizando a vida trágica de longos períodos de fome, guerras, doenças e cataclismos. A realidade social é predestinada e, em geral desafortunada, mas o karma, através da repetição da vida por meio de vários nascimentos, é a esperança de atingir uma casta mais elevada. A salvação consiste na libertação desse ciclo e na fusão final com Deus.

Na cosmologia hindu, Brahma está além de  toda ação ou inação e acima do bem e do mal. A energia latente que existe dentro de Brahma, quando liberada na criação do universo, toma a forma de Maya (ilusão), que assim é captada por nossos sentidos. 




Qualquer universo, como projeção de Brahma, tem a existência limitada a 4,32 bilhões de anos solares. No final desse ciclo, as chamas ou as águas destroem esse universo e Maya retorna a Brahma, repetindo-se o processo indefinidamente.









Hinduísmo e casta


Os hindus atribuem carácter religioso a todas as atividades, o que faz do hinduísmo uma ordem social-religiosa que influi diretamente na vida do cidadão, desde a moral até a economia e a gramática.

De certa maneira, isso supera o pessimismo da desilusão e confere a cada momento da vida uma dimensão religiosa. São imperiosas as obrigações impostas pelo sistema de castas. Actuar de acordo com a casta a que pertence é, para o hindu, consequência da doutrina enraizada na ordem do universo. A ordem social divide as pessoas em castas, assim como a vida se manifesta em formas inferiores e superiores. O sistema de castas surgiu na Índia com os árias e começou a desenvolver-se por volta de 850 a.C. A sua origem parece proveniente da divisão entre o imigrante ária, de pele clara, e os nativos (dasya), denominados escravos (dasas), que se distinguiam pela pele escura. Com o tempo, o sistema de classificação evoluiu para o plano político-social-religioso.

Povo de Deus  

Na sua estrutura mais antiga, o sistema era constituído de quatro castas: os brâmanes (sacerdotes), os xatrias (guerreiros), os vaixás (burgueses) e os sudras (artesãos). Cada casta tem suas próprias normas e está rigorosamente separada das outras. Não é permitido o casamento misto, nem a refeição em comum, nem a participação conjunta em actividades profissionais. A quebra de qualquer dessas obrigações implica a exclusão da casta, pelo que o indivíduo fica privado de todo direito social e se torna um pária, sem casta. Mais tarde esse número aumentou e chegou a mais de três mil castas e sub-castas, divisão que ainda influi poderosamente a sociedade indiana, apesar da extinção legal das castas em 1947. 

Nessa época, o sistema dividia a população indiana em cerca de 17 milhões de brâmanes, vinte milhões de membros das outras três castas e mais de sessenta milhões de outras categorias, entre as quais a dos intocáveis harijans, povo de Deus nome que o estadista indiano Ghandi escolheu para determinar um grupo de 160 milhões de pessoas na populosa Índia, em oposição ao termo os intocáveis, termo este abolido oficialmente desde 1950.




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